sexta-feira, 2 de junho de 2017

FALÁCIAS SOBRE A IDADE MÉDIA E O FEUDALISMO

Há muitos equívocos e generalizações quando falamos de um determinado período histórico, principalmente um período tão distante de nós. Quando aprendemos sobre o período medieval temos a tendência de puxar de nosso imaginário algumas cenas, visões e ideias que muitas vezes não estão de acordo com o que realmente aconteceu. Temos de tomar cuidado com essas generalizações para não cair no anacronismo. Mesmo assim, precisamos verificar o que caracteriza o período de uma maneira mais ampla e o que se tornou um estereotipagem do período.

Vamos a algumas dessas falácias:

1. Considerar a Idade Média como uma época de atraso científico e intelectual

Segundo a professora Joelza Domingues no blog Ensinar História:
Longe do que se imagina, a Idade Média criou e difundiu conhecimentos científicos e um de seus maiores legados intelectuais foram as universidades. As primeiras universidades apareceram em Bolonha (1119), em Paris (1150), em Oxford (1168) e em Cambridge (1209) como associações de mestres e alunos. Foram valorizadas por reis e papas e reagiram às tentativas de controle dos poderes locais. Aliás, uma herança das universidades medievais é o costume do trote aos alunos recém-ingressos, muitas vezes aplicado de forma perversa.
Universidades surgidas na Idade Média são, ainda hoje, 
importantes centros de pesquisa. 
Interior da Biblioteca Bodleian, Universidade de Oxford, Inglaterra.

A burguesia urbana (medieval), além de favorecer a expansão das atividades econômicas, estimulou a expansão da escrita, a disseminação de novas ideias contribuindo para importantes transformações culturais. 

2. Não perceber a noção de fidelidade feudal

Também de acordo com a professora Joelza Domingues, a opressão senhorial, sobre o campesinato oprimido pelas obrigações, pela fome, pela guerra e pelas doenças trata-se de uma caracterização que não dá conta da dinâmica da vida social no período medieval e que não se sustenta frente a uma simples pergunta: como as pessoas puderam viver assim durante mil anos?Ninguém reclamou? 
A sociedade medieval assentava-se nos vínculos de fidelidade. Esta noção implicava um contrato no qual existia a devoção e a proteção. Ao camponês cabia a prestação de serviço e a obediência ao senhor, e este devia proteger o servo. Esse vínculo se reproduzia entre suseranos e vassalos, entre marido e esposa, entre a Igreja e os fiéis. 
Juramento de fidelidade de Henrique III, rei da Inglaterra,
a São Luis, rei da França. Miniatura, séc. XIV.
Laços de dependência e fidelidade eram a base das representações políticas, econômicas, sociais, culturais e do cotidiano. É importante ressaltar para os alunos a inexistência de salário na Idade Média, isto é, do pagamento periódico de uma quantia de dinheiro por um serviço contratado. Este era remunerado por um benefício que acabava estabelecendo fortes vínculos de fidelidade e consolidando relações humanas ou mesmo familiares permanentes. A quebra desses laços provocava guerras que, muitas vezes, estendiam-se por gerações. Além disso, as relações pessoais fundamentadas na dependência e subordinação, impediam a afirmação de uma personalidade individual. O homem e a mulher medievais que viviam no campo desconheciam o que nós entendemos por individualidade e privacidade.





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