Há muitos equívocos e generalizações quando falamos de um determinado período histórico, principalmente um período tão distante de nós. Quando aprendemos sobre o período medieval temos a tendência de puxar de nosso imaginário algumas cenas, visões e ideias que muitas vezes não estão de acordo com o que realmente aconteceu. Temos de tomar cuidado com essas generalizações para não cair no anacronismo. Mesmo assim, precisamos verificar o que caracteriza o período de uma maneira mais ampla e o que se tornou um estereotipagem do período.
Vamos a algumas dessas falácias:
1. Considerar a Idade Média como uma época de atraso científico e intelectual
Segundo a professora Joelza Domingues no blog Ensinar História:
Longe do que se imagina, a Idade Média criou e difundiu
conhecimentos científicos e um de seus maiores legados intelectuais foram as
universidades. As primeiras universidades apareceram em Bolonha (1119), em
Paris (1150), em Oxford (1168) e em Cambridge (1209) como associações de
mestres e alunos. Foram valorizadas por reis e papas e reagiram às tentativas
de controle dos poderes locais. Aliás, uma herança das universidades medievais
é o costume do trote aos alunos recém-ingressos, muitas vezes aplicado de forma
perversa.
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Universidades surgidas na Idade
Média são, ainda hoje,
importantes centros de pesquisa.
Interior da Biblioteca
Bodleian, Universidade de Oxford, Inglaterra.
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A burguesia urbana (medieval), além de favorecer a expansão das atividades
econômicas, estimulou a expansão da escrita, a disseminação de novas ideias
contribuindo para importantes transformações culturais.
2. Não perceber a noção de fidelidade feudal
Também de acordo com a professora Joelza Domingues, a opressão senhorial, sobre o campesinato oprimido pelas obrigações, pela fome,
pela guerra e pelas doenças trata-se de uma caracterização que não dá conta da
dinâmica da vida social no período medieval e que não se sustenta frente a uma
simples pergunta: como as pessoas puderam viver assim durante mil anos?Ninguém
reclamou?
A sociedade medieval assentava-se nos vínculos de fidelidade. Esta
noção implicava um contrato no qual existia a devoção e a proteção. Ao camponês
cabia a prestação de serviço e a obediência ao senhor, e este devia proteger o
servo. Esse vínculo se reproduzia entre suseranos e vassalos, entre marido e
esposa, entre a Igreja e os fiéis.
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Juramento
de fidelidade de Henrique III, rei da Inglaterra, a São Luis, rei da França. Miniatura, séc. XIV. |
Laços de dependência e fidelidade eram a
base das representações políticas, econômicas, sociais, culturais e do
cotidiano. É importante ressaltar para os alunos a inexistência de salário na
Idade Média, isto é, do pagamento periódico de uma quantia de dinheiro por um
serviço contratado. Este era remunerado por um benefício que acabava
estabelecendo fortes vínculos de fidelidade e consolidando relações humanas ou
mesmo familiares permanentes. A quebra desses laços provocava guerras que,
muitas vezes, estendiam-se por gerações. Além disso, as relações pessoais
fundamentadas na dependência e subordinação, impediam a afirmação de uma
personalidade individual. O homem e a mulher medievais que viviam no campo
desconheciam o que nós entendemos por individualidade e privacidade.
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